CEO da Altice Portugal reuniu-se com sindicatos e frisou que a empresa é a “vítima”, pediu foco na operação e descartou alterações

AAltice Portugal está no centro de uma investigação do Ministério Público (MP), que suspeita de simulação de negócios e ocultação de proveitos na venda de património imobiliário da antiga PT, envolvendo altos responsáveis ligados à empresa. Ana Figueiredo, CEO da Altice Portugal, garantiu ontem aos sindicatos e comissão de trabalhadores que a empresa é a “vítima” e disse que já foi pedida uma auditoria a uma entidade externa, mas não disse qual. Todavia, há já quem reivindique a nacionalização da telecom.

“A mensagem que nos foi passada, e que vamos transmitir aos trabalhadores, foi de tranquilidade”, revela Jorge Pinto, coordenador da comissão de trabalhadores da Meo, ao Dinheiro Vivo (DV). Segundo o representante dos trabalhadores, Ana Figueiredo não entrou em detalhes sobre o processo do MP, alegando segredo justiça, mas garantiu que a prometida investigação interna na empresa, anunciada há dias, já está em curso. Por isso, apelou às estruturas representantes dos trabalhadores ponderação e assegurou que os trabalhadores “poderão seguir uma vida normal” na empresa.

Jorge Pinto, contudo, admite que este caso, que já levou Alexandre Fonseca, co-CEO global do grupo Altice, a suspender funções executivas e não-executivas, pode criar constrangimentos. Ainda assim, o responsável diz que “os trabalhadores tudo farão para que tal não aconteça”, lembrando que na próxima semana a dona da Meo apresenta os resultados do segundo trimestre.

“O que precisamos é que os trabalhadores estejam focados para a empresa continuar a crescer, afirma.

orge Félix, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice em Portugal (STPT), afirma ao DV, por sua vez, que os trabalhadores estão “extremamente preocupados” com as consequências da Operação Picoas, mas dá nota positiva à mensagem que Ana Figueiredo transmitiu: “Garantiu que a empresa não vai deixar de cumprir as obrigações com os clientes e com os trabalhadores, pediu-nos ajuda a manter a tranquilidade e disse que a Altice Portugal é a vítima, não é coautora.”

O dirigente do STPT confirma que Ana Figueiredo disse já ter solicitado uma auditoria a uma empresa externa, “comprometendo-se, a própria CEO, a envolver-se no que for necessário”.

Acrescenta que foi dada nota que “não haverá alterações estruturais na empresa” e que “a empresa vai esperar pelo resultado da investigação judicial para chegar a uma conclusão”.

SINTAVV pede nacionalização

Já Manuel Gonçalves, presidente do SINTAVV, tem uma leitura muito diferente. “[Ana Figueiredo] pediu calma, disse que a empresa vai continuar os projetos e que uma auditoria foi pedida, mas não disse a quem. Nem disse quando haverá resultados disso. Não trouxe nada de novo face ao que já se sabia”, relata.

“A nossa posição é muito clara, vamos emitir um comunicado esta semana a exigir ao governo que nacionalize o que resta da PT”, revela.

O dirigente diz que a CEO da Altice Portugal não esteve com os representantes dos trabalhadores mais do que meia hora e diz-se insatisfeito com algumas respostas. “Foi dito que a investigação interna é dirigida a entidades e indivíduos externos. Houve quem perguntasse se [o cofundador] Armando Pereira era externo à empresa. A CEO disse que há dez anos que não é acionista, mas isso é mentira, porque a Altice está cá só há oito anos e, muito depois disso, ele esteve em reuniões connosco; foi também perguntado se o João Zúquete [chief corporate officer e responsável pelo património da empresa] – que era o braço direito do Armando Pereira – era visado na investigação (uma vez, numa reunião, o Armando Pereira chegou a dizer que na carteira dele só duas pessoas mexem, ele [o cofundador] e o [João] Zúquete”), lembra.

Antes de se reunir com os sindicatos e comissão de trabalhadores, uma nota assinada pela CEO da Altice Portugal fora enviada aos trabalhadores do grupo, em Portugal, pedindo foco na operação lusa.

Segundo Jorge Pinto, em Portugal, o grupo Altice tem perto de 20 mil trabalhadores, dos quais 6200 afetos só à Meo.