Em entrevista à GQ Espanha, a futebolista assume ter passado semanas “muito difíceis” devido ao incidente após a final do Mundial, mas agora diz querer ser lembrada como “alguém que tentou mudar mentalidades”.
A futebolista Jenni Hermoso assumiu em entrevista à revista GQ Espanha que recebeu ameaças na sequência do caso que abalou o futebol feminino originado pelo polémico beijo de Luis Rubiales, ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) na cerimónia de entrega de medalhas após a final do Mundial 2023, que as espanholas conquistaram, em agosto, numa final com a Inglaterra (1-0), disputada em Sydney, na Austrália.
“Tive de assumir as consequências de um ato que não provoquei, não escolhi e não premeditei. Cheguei a receber ameaças e isso é algo que nunca nos acostumamos”, disse Jenni Hermoso em entrevista que assinala o facto de ter sido eleita Mulher do Ano por aquela publicação, garantindo que passou semanas “muito difíceis”.
“Ter de contar o caso repetidamente estava a magoar-me muito. Continuo a trabalhar com a psicóloga que me acompanha há vários anos e graças a ela sinto-me forte, não estou desanimada ou a pensar deixar o futebol”, revelou, garantindo que considera a saúde mental “tão importante como o treino diário ou as horas que é preciso dormir” para se poder apresentar a um grande nível na competição.
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A avançada de 33 anos, que representa as mexicanas do Pachuca, assume que o seu caso serviu para alertar para questões ligadas à igualdade de género. “Acho que muitos se tornaram mais conscientes do significado da palavra feminismo”, assumiu.
Hermoso lembrou que a sua geração vive “na primeira pessoa a luta pela igualdade”, algo que lhes tem causado alguns problemas: “Chamavam-nos caprichosas. Sempre disseram que queríamos ganhar o mesmo que os homens, mas isso não é verdade. Dá-me muita raiva quando dizem que o futebol feminino não gera tanto como o feminino. Obviamente que sabemos disso e apenas queríamos o básico como ter um salário mínimo, que nos respeitem e que nos deem a oportunidade de fazer algo grande. E quando tivemos essas condições ganhámos um campeonato do mundo”, sublinhou.
A polémica com Rubiales tornou-a numa espécie de símbolo do futebol feminino, algo que assume ao ponto de dizer que pretende ser lembrada “como alguém que quis deixar Espanha no topo”, mas sobretudo “como alguém que tentou mudar muitas mentalidades”. E é por isso que faz questão de tentar “aprender a aproveitar” a polémica em redor do beijo não consentido de “uma forma positiva para lutar” por aquilo que acredita ser “bom para a sociedade”. Jenni Hermoso assume que o movimento #SeAcabó, que surgiu após a demissão de Luis Rubiales, que entretanto viu a FIFA suspendê-lo por três anos, “deve trazer uma nova era”.
A internacional espanhola admite que nos últimos meses, “com tudo o que se passou”, os seus pensamentos “desviaram-se um pouco do futebol”. “Apenas por momentos recordava que era futebolista, mas agora quero voltar a dar a melhor versão de mim e continuar a desfrutar deste desporto”, assumiu esta madrilena que mudou para sempre a face do futebol feminino em Espanha.